At the peak of his world fame, Paulo Mendes da Rocha passes away, at age 92, in São Paulo
HOMENAGEM / TRIBUTE
26/05/2021
Querido e admirado colega, professor, amigo e sempre um mestre incentivador de muitos membros da e-DAU, que direta ou indiretamente tiveram contato com ele e sua bela obra, o arquiteto e urbanista Paulo Archias Mendes da Rocha (1928-2021), ou simplesmente Paulo ou "Paulinho" para os mais próximos, nos deixou, há três dias. Num dia ensolarado de um domingo paulistano, finalmente descansou, após uma vida de muitas lutas que resultou numa grande "vitória"* final, coroada por múltiplos prêmios e honrarias internacionais. Paulo, com quem tive muito contato na FAU/USP e no IAB-SP ao longo das últimas quatro décadas, era filho de uma família descendente de portugueses (Mendes da Rocha) e italianos, da parte da mãe (Derenzi). Seu pai, o engenheiro capixaba Paulo Menezes Mendes da Rocha, projetista de portos e vias navegáveis - que chegou a ser diretor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (1943-1947) -, muito lhe ensinou sobre a relação entre tecnologias e o território, mas Paulo tinha ideias próprias e estudou Arquitetura e Urbanismo na Universidade Mackenzie. A seguir, recebeu o convite do outro grande representante da dita "Escola Paulista", o colega João Baptista Vilanova Artigas, para dar aulas na FAU/USP, onde recebeu o título de Professor Emérito (2010), após sua aposentadoria compulsória, em 1999.
Desde cedo, mostrou seu inegável talento de relacionar os espaços e os elementos construtivos em obras minimalistas de cunho brutalista, com grande ênfase ao concreto aparente e ao aço, abrindo mão de espacialidades abstratas e linhas quase sempre retas em geometrias ortogonais - próprias do paradigma racionalista -, que contrastavam com as ondulações e complexidade das paisagens brasileiras de matas nutridas pela irreverência da biodiversidade exuberante. Singelas e resilientes, as belas obras do Paulo se erguem contra os humores imprevisíveis das topografias ondulantes e rica vegetação dos trópicos, acompanhadas pelo seu horror ao supérfluo. Um arquiteto que projetou obras pensadas em sua dimensão territorial, imensa no caso brasileiro, fossem essas pequenas esculturas, móveis, residências, edifícios ou espaços públicos, de uso coletivo. Tudo sempre tratado como uma coisa só: público e privado tendem a se dissolver no seu traço, em busca de uma sociedade socialmente justa e fraterna.
Lembrou ao nosso grupo e-DAU o nosso presidente e colega arquiteto e urbanista Walfredo Antunes de Oliveira Filho, o coordenador da equipe que projetou a cidade de Palmas, capital do estado de Tocantins: "Quando mostramos a ele as primeiras fotos do local escolhido para Palmas, no escritório em Goiânia, nos disse, ao vislumbrar a Serra do Lajeado ao fundo: "Parabéns: esta cidade vai ter moldura, tal qual o Rio e Belo Horizonte."
E como não se emocionar, maravilhar e aplaudir sua engenhosidade diante de obras notáveis como o seu escultural MUBE, com suas articulações espaciais e surpresas a cada passo, mantido o absolutismo de seu reino concreto e materialista, com ecos das obras primas do Le Corbusier dos palácios de Chandigarh e do Convento de Sainte-Marie de La Tourette, mas com uma leveza de matriz claramente niemeyeriana?
Enfim, cito novamente nosso brilhante presidente Walfredo, em suas lembranças sobre o Mestre que jamais nos deixará: "Grande Paulinho, humor e talento irretocáveis, uma percepção singela da realidade, certamente uma perda irreparável. Merece todas as homenagens."
Assim, "Palmas" para ele também, caro Presidente, diante do imenso apláuso que recebeu pelos quatro cantos do planeta!
Bruno Roberto Padovano
Arquiteto e Urbanista
Presidente do Conselho, e-DAU
A dear and admired colleague, professor, friend and an always encouraging master to many of the e-DAU members, who directly or indirectly had a contact with him or his beautiful works, the architect and urbanist Paulo Archias Mendes da Rocha (1928-2021), or simply Paulo or "Paulinho" for those closest to him, passed away, only three days ago. On a sunny day of a São Paulo morning, he finally rested, after a life of many struggles which resulted in a great final personal, academic and professional victory*, crowned by multiple prizes (such as the renowned Pritzker Prize, in 2006) and many other international tributes and titles. Paulo, with whom I had a lot of contact at FAU/USP** and at the IAB-SP** during the last four decades, was the son of a family of descendents from portuguese (Mendes da Rocha) and Italians, from his mother's side (Derenzi). His father, the Capixaba**** engineer Paulo Menezes Mendes da Rocha, designer of harbours and waterways, who came to be the director of the Polytechnic School of the University of São Paulo (1943-1947) -, taught him much about the relationship between technology and territories, but Paulo had his own ideas and studied Architecture and Urbanism at Mackenzie University. Later, he received the invitation from another leader of the so-called "Paulista School", his colleague and also professor, João Baptista Vilanova Artigas, to give classes at FAU/USP, where he would receive, after his compulsory retirement (1999), the honorary title of Professor Emeritus (2010).
Since early in his career, he showed his undispitable talent in relating spaces and constructive elements in minimalist works of a brutalist nature, with great emphasis to exposed concrete and steel, using abstract spatialities and almost always straight lines and orthogonal geometries - proper of the rationalist paradigm, which contrasted with the ondulations and complexity of Brazilian landscapes of forests nourished by the irreverence of an exuberant biodiversity, and the chaoticity of dense and verticalized urban landscapes, such as São Paulo's. Synthetic and resilient, the beautiful works by Paulo rise against the aleatory humours of both nature and uncontrolled urbanization, accompanied by his horror to all that may be superfluous. An architect whose designed works thought of in their territorial dimension, immense in the Brazilian case, be these small sculptures, furniture, houses, buildings or public spaces, of collective use. All treated as one thing: public and private seem to dissove in his drawings, searching for for a just and fraternal society.
Our President and colleague architect and urbanist, Walfredo Antunes de Oliveira Filho, the coordinator of the team who designed the master plan for the city of Palmas*****, capital of the Brazilian State of Tocantins, recalled to our group that "When we showed him the first photos of the site chosen for Palmas, in the Goiânia office, he said as he glimpsed towards the Lajeado Highlands in the background: "Congratulations: this city will have a moulding, just as Rio and Belo Horizonte.""
In truth, how not to feel a strong emotion, marvel at and applaude his ingeniousness befor such works as his sculptural MUBE*******, with its spatial articulations and surprises at every step, maintained the absolutism of his materialistic and concrete reign, with echos of brutalist masterpieces of Le Corbusier of the Chandigarh buildings and of the Saint-Marie de la Tourette Convent, but with a lightness of a clearly Niemeyerian matrix?, in his memories about the Master who will never leave us: "Great Paulinho, humour and talent
Finally I quote again our brilliant President Walfredo: "Great Paulinho, impeccable humour e and talent, a straightforward perception of reality, certainly an irreparable loss. He deserves all the tributes."
So, "Palmas, or hand clapping" for him too, dear President, in view of the great applause he has received in the four corners of the world!
*with the same name as the city he was born in, Vitória, in the State of Espírito Santo, Brazil.
** School of Architecture and Urbanism of the University of São Paulo.
*** Brazilian Institute of Architects - Department of São Paulo.
**** A citizen of the city of Vitória.
***** In Portuguese, 'palmas' means also hand-clapping.
****** Brazilian Museum of Structure.
Bruno Roberto Padovano
Architect and Urbanist
President of the Council, e-DAU
Comments